Partilhando um presente

Em terapia esta falando (chorando minhas pitangas) que as vezes me sinto desvalorizada, que sinto que fiz algumas escolhas erradas e que algum reconhecimento seria muito bom. Levei uma bela mijada da Sayonara Linhares da Casa Z. Hoje pensei em desativar meu perfil do orkut e acabei vendo este depoimento lindo.
Há alguns anos recebi de presente esta descrição de uma grande amigo, por quem tenho profunda admiração e respeito:



"O problema em descrições está não nas palavras daquele que descreve, mas na falta delas. Está para ser criado um idioma no qual todas as coisas possam ser descritas. Mesmo os mestres das línguas esbarrariam naquele que é o maior problema de todos: as comparações naturais que aquele para quem a descrição é feita está fadado a fazer.

Tentarei ser mais claro. Se eu disser que Hanife tem os cabelos negros, você buscará em sua mente outras mulheres com cabelos negros e arquivará esta informação no mesmo setor. Eu poderia ir mais longe e dizer que seus cabelos são negros como as noites de inverno e sedosos como as pétalas de uma flor de lótus; que eles a perseguem em sua dança como a cauda de um mágico cometa - cada fio como um amante tímido demais pra tocar seu corpo mas incapaz de manter-se longe de sua pele.

Ainda assim, você pensaria: "Eu já vi mulheres de cabelos negros; já toquei a suavidade de cabelos sedosos; já vi as longas tranças de dançarinas perseguindo-as pelos palcos". E você acreditaria que entendeu.

Você estaria errado.

Eu diria que seu sorriso ilumina não somente o palco, mas a audiência. Que dançando ela nos faz esquecer o tempo. Do momento em que ela pisa no palco até o instante no qual ela o deixa... segundos, minutos, anos... simplesmente deixam de existir. Neste tempo, universos são criados e destruídos. Neste tempo, uma única lágrima se forma. Neste tempo, civilizações sao erguidas e esquecidas. Neste tempo, o canto de nossas bocas treme, num sorriso de plenitude. Neste tempo, nossas almas tocam os céus. Neste tempo, nossos olhos são incapazes de se deixarem piscar.

Ainda assim, você pensaria: "Eu já presenciei espetáculos que elevaram meu espírito às mais divinas esferas; eu já matei a fome e a sede apenas vendo a maestria e suavidade de uma bailarina; eu já me perdi no tempo e espaço, já chorei e já ri, já fui tocado e deixado pelas mais ricas visões". E você acreditaria que entendeu.

Você estaria errado.

Onde quer que Hanife esteja, ela está no centro do palco. Nossos olhos a seguem naturalmente. Não que ela se posicione de uma forma pedante ou vaidosa; ela não tenta, e não precisa, chamar a atenção para si. Ela não faz, ela não está - ela é. Nossos olhares se voltam e a perseguem da mesma forma que nossos corpos se aproximam do fogo em uma noite fria. Nós não o fazemos somente pela luz que emana das chamas; fazemos também pelo calor. Não conscientemente, mas de forma instintiva. Porque nossos corpos sabem mais do que nós sobre aquilo que precisamos. Assim como nossos corações sabem infinitamente mais sobre o que almejamos do que nossa racionalidade. E o calor que Hanife exala, permanentemente fluindo pelo centro do palco de nossas mentes, só não é maior que a luz que brilha de seus movimentos.

Eu poderia escrever páginas e mais páginas em todas as línguas do mundo, vivas e mortas... e eventualmente você acreditaria que entendeu.

Você estaria errado.

Eu termino de escrever isto, e é frustrante saber que neste momento você não está convencido de que você não entendeu.

Você está errado.

Você só entenderá quando vê-la. Na verdade, você só entenderá quando lhe faltarem as palavras ao descrevê-la para alguém. Só então você entenderá."

Richard Vasques


Não tive coragem de apagar meu perfil sem antes salvar isto...
Respeito, admiração e reconhecimento por nosso trabalho vem de onde tem que vir.
Obrigada aos meus amigos, as minhas alunas amadas, minhas meninas do projeto, as poucas (mas acreditem elas existem) fãs, minha mestra Thais Bernardes.

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