"...o improviso é a verdadeira dança oriental..."

Pois então... dia desses o querido @khaledemamofficial fez um post muito pertinente. Várias professoras compartilharam. Eu também simplesmente pq assino embaixo.  Vou deixar o texto na íntegra no final deste post.
Quando uma das minhas professoras compartilhou, fiz um comentário que exprime tão bem o que penso que resolvi compartilhar e desenvolver e expor um pouco mais meu ponto de vista:

Poucas pessoa compreendem que dançar de improviso é como fazer uma redação. Você pode saber escrever mas, se não souber nada sobre o assunto, seu texto será desconexo. Quanto maior seu domínio do assunto ( música), melhor seu emprego de palavras (movimentos).
Cada um tem um estilo de oratória, pode e deve emprega-lo. Contudo, nem o melhor cronista escreverá bem sobre um assunto que não domina, muito menos se tiver de escrever numa língua que não domina.
Dançar é improvisar, da mesma forma que escrever é ter elementos para expressar sua interpretação sobre um assunto. Limitar -se a coreografias, e só coreografias, na minha opinião, equivale a ser um analfabeto funcional, um copista dos mosteiros da era medieval, que meramente reproduz um texto,ainda que a perfeição rebuscada de um caligrafista .
Transcrever Aristóteles não me fez de ninguém filósofo.

  Essa esta que vos fala  4 de agosto de 2019


Prepara pro textão. Nessa vida eu vim prolixa.rsrs


Quem aí já se divertiu com as "Pérolas Do ENEM"?

É engraçado, a gente fica se perguntando "Mas essa criatura NUNCA estudou?"
Tamanhos os absurdos que escrevem.

Ou "gringo" tentando sambar? Misturando passo de frevo com samba e axé.

Ou ainda confundindo a capital do Brasil com a da Argentina.

Tenho uma surpresa pra vocês...
A brasileira aqui, pobre coitada que  se vira nos 30' pra estudar, traduzindo texto a duras penas... já quis cavar um buraco e me esconder pra não ter de julgar coreografia.
Estava tudo tão fora de contexto que eu não sabia nem por onde começar a explicar.
Eu juro!

Graças, cada vez mais isso é raro.

Por quê?
Tenho uma teoria.

CONSUMISMO

Isso aí,  meu povo!
Necessidade de consumo.

Alguém dança uma música "top" , bailocada saí doida querendo a música.  Aí junta com o movimento daquela bailarina X do estilo novo, com a sequência do último workshop do momento esse TCHARAM!
Sai uma coreografia nova! Cheia de movimentos de alta complexidade,  é quanto mais melhor. "Aí... a música é muito grande!" COOOORTA FIAAAA! Picota tudim.

Resultado?
Seria mais ou menos isso:

Imagina uma menina com uma fantasia de Passista, rainha da bateria!

Começa a música... Asa Branca.
Você já levanta uma
 sobrancelha.


A menina lá sambando,  perfeitamente. Impecavelmente!

Como você se sentiria?
Deixa aí nos comentários,  que eu quero saber.

O cenário pode ficar pior...

Imaginem que é  uma competição.

Entra outra menina, vestida com um vestido simples de chita. Dança improvisado  Clementina de Jesus, aquele Partido Alto que levanta o povo. Na simplicidade e verdade que SÓ quem convive no samba tem.
E a primeira GANHA😱
Vocês estão entendendo onde quero chegar?


Não vou me alongar, a Nilza Leão tem um workshop maravilhoso sobre isso. A Márcia Dib também arrasa no tema, aliás, o Scholar tá recheado de trabalhos excelentes sobre danças populares e  folclore. Vai lá,  marca uma aula ( é mais barato que você imagina), faz download dos tccs, teses, livros que você pode por no celular.


"Ah, Paula, que exagero!"
Não dá tempo! Tenho que ensaiar!"

Não dá mesmo! No consumo de festivais, competições,  selos, seleções,  cada uma com um tema diferente. Não dá tempo de pesquisar a letra. Compreender o contexto da música.  Não dá tempo de apreciar a música. Só  de desmembrar e
CRTL C+CRTL V.

Agora que já estamos todos na mesma página,  vamos falar de construção de conhecimento.

Acostume-se com coisas diretas e retas.  Se não gostar, tem bastante conteúdo mais  palatável por aí.  Sinta-se a vontade.

Amores da tia... aqui é "Pega, Mata e Come".

Dou aula de Dança Oriental, oficialmente,  há 11 anos, nesses anos todos, conto nos dedos, e não enche duas mãos,  as pessoas que tiveram paciência, comprometimento e humildade para aprender.
As pessoas chegam numa escola muitas vezes sem nem saber que só tem um pé direito, pouca consciência e controle corporal, mas elas já querem a tal da coreografia da apresentação.

Oi?!

Vamos com calma, minha gente!
Que tem um caminho pela frente.
Tem muitos percussos, caminhos longos, atalhos também.

Conversa aí  com quem tem mais de 50 anos, certamente eles conhecem melhor sua cidade, seu estado que você com toda a tecnologia que tem a sua disposição.
Sabe por quê?
Porque eles aproveitavam o percurso.
Sabe, curtir a paisagem, sentir os aromas, a textura da estrada, os sons de cada lugar.
Viviam o caminho. Desfrutavam.

Hoje a pessoa pega um avião,  com a cara no filme. Nem pensa em olhar pela janela.
Magicamente chega, pouco tempo depois, no destino.

CONSUMISMO EM DANÇA é essa necessidade de chegar.

Chegar onde, fiaaaaa?!
Também queria saber!

Aula é bom? É ótimo!
Workshop acrescenta?!
Óbvio!
Curso me dá base?!
Auxilia muito.
Mas nada disso tem serventia se for só pelo título. Tem que ter PRÁXIS! Prática refletida.


E por falar em títulos,  se as pessoas gastassem mais tempo e dinheiro estudando seu corpo  do que em inscrição de competição a qualidade artística seria extraordinária!

"Oh, Paula,  desafio é bom, incentiva a superar!"

Quer um desafio? Dança a mesma música o ano inteiro.  Filma o processo,  filma qdo achar que está boa. Leva pra competição.  Avalie as primeiras avaliações e as últimas.  Aprecie seu desenvolvimento! Ouso dizer que você vai crescer muito mais com isso que mudando de coreografia toda hora.
Sabe por quê?
Porque aí você para de coregrafar e passará a dançar.


Onde mora a raiz disso.  Na nossa sociedade,  obviamente. 
Em dança, começa lá nas primeiras aulas.

Quem aí aprendeu a ler copiando texto?

Uma coisa é entender que sequência coreográfica PODE ser UMA boa ferramenta de aprendizagem,  mas tá longe de ser a única.  E  tem mais alguns fatores pra pensar sobre esta ferramenta útil.

PROFES, montou a sequência, contextualiza.

"Olha nós vamos fazer no tempo forte, no DUM, na frase, na voz, no instrumento tal."
Ou no que quer que você resolva construir sua sequência.
Entendeu? Não resolve nada dar sequência como base de ensino se você não apontar o que ouvir. Nosso ouvido ocidental não está acostumado a afinação,  as camadas nem ao UNÍSSONO da música oriental.

ESTUDANTES,  não entendeu pq cargas d'água você está fazendo, PERGUNTA!
A profe pode não saber tudo, e tá tudo bem. Ninguém é obrigado a saber tudo.

O importante é entender que só reproduzir não te faz entender e por consequência saber usar.
Quando você entender, EXPLORE!
Repita, faz leeeento, faz rápido, suprima, acrescente.
Sabe qdo você sabe tão bem que brinca no meio da sequência?!  É  isso! Identifica frases similares,  faz as adaptações pra caber na música nova.
Aos poucos você vai criando repertório.
Contudo, coreografia, e  por consequência  dançar, não é um monte de sequências coladas umas nas outras. Muito menos técnica perfeita!



Outro meio de aprendizagem, é explorar a música,  entendendo o quê fica mais interessante para reproduzir o som elegendo movimentos por suas qualidades.
PROFES, já fizeram exercícios de escuta? Ajuda horrores!
Para este estudo você também pode eleger instrumentos e expressar o som com os movimentos que você aprendeu.

Pessoas, eu não sou doida!
Tá, só um pouquinho.

Voltando lá pro começo desse texto.
Sei perfeitamente que ninguém sai dançando de improviso da noite pro dia.
Mas também ninguém faz solo da noite pro dia.
Coreografia se torna importante para dançar em grupo.
Ensina empatia, solidariedade,  comprometimento, auxilia na memória,  cognição.   E mais um monte de benefícios.
Importante é saber que é um recurso para que todas dancem juntas, que experimentem a música de forma adequada. Mas não é uma prisão!

Se você está em casa ouvindo suas músicas e não consegue brincar, curtir, fazer uma leitura básica e simples que seja, fique atenta! Talvez precise rever seu processo,  buscar aulas que te auxiliem a desenvolver  esse ouvir e usar seu repertório.

Faz aula de percussão. Estudo de dança contemporânea.
Se desafie a dançar todos os dias um pouquinho.  Mas dance! Se expresse através da dança.
Por favor, não  se compare! Sua dança é sua. Seu corpo é único.
Não fique escrava da coreografia que foi feita pata o corpo histórico que a dança.

Afinal você faz aula de Dança para dançar e não coreografar a vida inteira.

Para finalizar  deixo o texto do khaled lá do inicio desta reflexão.

"O Improviso, complementando o artigo interior.
Super Star Dina.
A dois anos atrás escrevi artigo sobre o improviso, no artigo além do texto sobre, tem vídeo, mas como o vídeo é de música, algumas mensagens recebi pedindo se tem vídeo em dança.
A quem ainda não leu o artigo, eu acabei de compartilhar no grupo e ainda está na página.

E neste post, este vídeo da nossa diva, superstar Dina, é um exemplo do improviso, como é para nós. Como citei na postagem interior, o improviso é o que não é  coreografado, mas, o conhecimento é fundamental, conhecer a música e quando é bailarina, claro tudo deve ser estudado, como ritmos, musicalidades, técnicas, é um profissional.

Podemos ver no vídeo, sem ser programado, a Dina levanta e começa a dançar, claro tem conhecimento pelo musica e mais ainda pela a dança, mas o momento não foi coreografado, é improvisado, pode acontecer com outra bailarina, e levanta e dança totalmente diferente, seja em sequência, leitura ou gesto, é mesma música, mas cada uma se entrega e se manifesta de uma forma diferente que a outra.

Antigamente na época das Awalem, rua Mohamed Ali no Cairo, a maioria da dança era improvisada, deixando as apresentações no cinema do lado claro.

Quando falamos que o improviso é a verdadeira dança oriental, é porque a dança existia bem antes da Badi3a Masabny, bem antes da chegada das Ghwazes, bem antes da cinema e também bem antes que ser levada ao palco como folclore, a dança existia e existe dentro das nossas casas, em nossas festas, e tudo era improvisado, mas tem o conhecimento seja pela música ou pela a dança.

Observação:
Não interprete uma música, que você não conhece e dizer está improvisando, sem conhecer jamais a sua leitura e expressão serão perfeitas.

Este post é uma extensão do artigo interior e creio que tiraria as dúvidas sobre."

Credito: Superstar Dina.

Khaled Emam
















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